terça-feira, 2 de setembro de 2014

POV (Lívia)

Descobrir  uma traição nunca será vista com bons olhos para ninguém, se existe está tipo de pessoa, ela realmente não sabe o que é amar alguém. Deva ser a pessoa mais frívola da face da terra. Frívola não entrava em nenhuma das minhas qualidades, eu sempre fui o tipo de pessoa que não fazia com os outros o que não queria que fizessem comigo. Tola eu fui durante anos ao pensar dessa maneira, infelizmente nem todos pensavam da mesma forma que eu. O lance de “amar o próximo como a ti mesmo” era puro mito. Essa merda não existia e lá no fundo do meu ser eu sabia disso, apenas persisti em um erro.
Dar e receber, deveria ser assim que as coisas deveriam funcionar. Eu dei e não recebi, eu amei e não fui amada, eu praticamente me doei. Saber que você fez de tudo para o outro e em troca ele devolve com migalhas e traições foi simplesmente o fim da picada, a gota para transbordar o copo,   pior decepção que tive em minha vida. Percebi que enquanto eu vivesse, eu teria que mudar o meu jeito de ser com as pessoas, largar de ser a meiguinha, a boazinha, a lindinha. O “inha” era diminutinho de tudo o que não prestava. Mundo era dos espertos e eu a burra do “inha”.
Eu fiquei tão cega de ódio que eu realmente pensei em ter matado o Lucas quando arranquei com o carro, em nenhum momento eu pensei em frear ou desviar, se ele estivesse na minha frente e não tivesse saído eu teria passado por cima dele sem nenhuma pena. O meu lado maligno tinha sido despertado e ele gritava em minha mente a mesma coisa a todo momento “destruir” destruir todos os que me humilharam, que riram, que tiraram proveito da minha bondade, da minha inocência. Do meu “inha”
Me rendi, ele estava certo, não tinha mas porque não me vingar de todos os que somente tiraram proveito.
Dirigindo igual uma loca e fui para a casa de Mell, não fui para conversar, eu fui para agir, para fazer acontecer. Quando ela abriu a porta com seu sorriso sínico vontade não faltou de partir para cima, mas tinha a tal criança, a maldita criança. O lado bom dizia que não, mas o mau dizia que sim. Eu tinha o deixado aflorar dentro de mim, estava cega de ódio, rancor e magoa. Dissemos meia dúzias de palavras, eu não queria mais ouvir pedidos de desculpas. Meu sangue fervia dentro do meu corpo e como se algo me possuísse eu parti para cima dela sem pensar mais em nada.
Ela era mais forte do que eu, mas como eu disse, uma força sobre-humana tinha se apossado do meu corpo. Eu era tudo, menos a Lívia.
Agarrei em seu pescoço e a sensação de vê-la se debatendo em busca de oxigênio era ótima, saber que eu proporcionava isso, era melhor ainda. Eu sentia a satisfação com o ato.
 Eu não sei como, mas ela conseguiu se soltar, se desequilibrando e caindo em seguida no  chão. Que tola, hoje não era o seu dia. Eu já me preparava para terminar o que tinha ido fazer quando vi o sangue que escorria pelas suas pernas. Sorri maravilhada. A voz dentro de mim me dizia para que eu a fizesse passar por esse sofrimento. A perda! A perda da maldita criança que crescia dentro de si.

― Lívia, por favor, me ajuda. ― implorou, seus olhos já lacrimejavam. Infelizmente hoje não era um bom dia para imploro para mim.
Recuei, eu não a ajudaria.
― Por que eu faria isso? ― ri dando de ombros. ― Talvez esteja na hora de você perder algo também. ― as palavras soaram tão naturalmente da minha boca, que foi como se eu fizesse isso todos os dias.
            “Nada mau Lívia!” Me parabenizei mentalmente.
― O meu filho não tem nada haver com isso Lívia, quem te fez mal foi eu, não ele. ― Seus olhos eram de imploro e assombro. Não me importei.
            “Deixe-a passar por isso” “Ela merece” “você sabe que ela merece”. A eu má gritava dentro de mim e eu fiz. A sensação era tamanha que eu não sabia o que estava sentindo realmente. Um feto não era realmente uma vida de verdade, a criança só era criança após o nascimento. Mas se tinha uma real importância para ela, eu queria que ela sentisse e sofresse com isso.

            Eu realmente cogitei em assistir toda a cena comendo pipoca, mas se eu continuasse ali eu seria presa. O babaca do Daniel, ou quem quer que fosse que ela estava esperando, deveria chegar a qualquer momento. Fui embora, arquitetava uma vingança esplêndida em minha cabeça. Eu não tinha me dado por vencida, não ainda. Uma nova Lívia eu havia me transformado e eu estava adorando.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário